A tomada de notas na interpretação

A tomada de notas é uma habilidade valiosa para nós intérpretes. Não apenas porque precisamos dela durante a interpretação consecutiva, mas também porque ela oferece múltiplos benefícios como, por exemplo, aproveitar melhor a retenção de conteúdos durante uma aula, ou exercitar a memória no processo de desdobramento das informações anotadas. Além disso, o exercício da memória nos motiva a processar as informações, a pensar sobre elas e, em seguida, encontrar a melhor maneira de resumi-las.

Há mais de uma técnica para tomar notas durante uma interpretação mas, em qualquer delas, o procedimento consiste em escrever as ideias-chave e os conectores do discurso, de modo que estes sirvam de ajuda para a memória, no momento da reprodução.
Assim, cada pessoa toma notas na forma que melhor funciona para ela, mas existe um sistema, com princípios e métodos fundamentais comuns, composto de símbolos, palavras e abreviações, como o sistema proposto por Jean-François Rozan. Esse sistema é bastante simples e se baseia em sete princípios. Abaixo compartilho três deles, os quais considero muito úteis.

Dê prioridade à ideia antes da palavra. Isto é, devemos nos concentrar em extrair a ideia geral que se pretende transmitir no discurso e não nos concentrarmos em escrever palavra por palavra.
Regras de abreviação. Rozan, propõe que a melhor maneira de abreviar palavras longas é usando as primeiras e últimas letras das mesmas. Por exemplo, se queremos anotar a palavra “comunicação”, sua abreviação para o português poderia ser  “coão” ou “comão”, no caso de “telecomunicação”, poderíamos usar “Tcão” ou “Telcão”, já para “chocolate”, a abreviação poderia ser “chte”.
Encadeamento. Este princípio estabelece que é necessário apontar a relação lógica entre as diferentes ideias do discurso. É aqui que os conectores desempenham um papel importante, uma vez que ajudam a reformular ideias. Por exemplo: podemos indicar “AD+” que significa “além disso, ademais”, ou ainda  “ptt”, para “portanto” ou “a-q” para “a menos que” ou “exceto se”.

Os três princípios acima representam apenas uma mostra do que pode ser trabalhado na tomada de notas. Há muitas outras técnicas e estilos, que podem nos beneficiar como profissionais da interpretação. Na verdade, cada profissional pode estabelecer seus principais códigos e seu estilo próprio, no entanto, conhecer aquilo que já foi pensado e desenvolvido pelos teóricos e especialistas pode significar um atalho na criação do nosso processo individual de tomada de notas.

Espero que este artigo tenha sido útil e te estimule a ler mais sobre o tema.
Se você é intérprete, pratica alguma técnica especial de tomada de notas? Informe-me nos comentários.

Até o próximo post!

 

Por Rosita Ueno – janeiro 18, 2021